“A eleição e a confirmação dos governantes ou dos que possam vir a governar são, em geral, atos plebiscitários; e porque unicamente se pode votar a propósito da ocupação de posições com poder decisório e não acerca das diretrizes para a decisão futura, a eleição democrática realiza-se aqui mais em forma de aclamação do que de discussões públicas. Perante a opinião pública política legitimam-se, quando muito, as pessoas que devem decidir; as decisões em si mesmas devem, em princípio, (…) permanecer subtraídas à discussão pública. Por conseguinte, [isto] reduz em última instância o processo de formação de vontade democrática a um procedimento regulado por aclamação das elites chamadas alternadamente à governação. Intacta na sua substância irracional, a dominação pode assim legitimar-se, mas não racionalizar-se como tal.”
Jürgen Habermas, 1987 (1968), Técnica e Ciência como “Ideologia”, Lisboa, Edições 70, pp. 113-4